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  • Foto do escritorPatrícia e Rafaela

OSCAR 2020: 1917

Atualizado: 30 de mai. de 2020

Filme construído em dois plano sequência, tenta inserir seu espectador nas trincheiras da primeira guerra mundial.


O que diferencia os grandes filmes do ano de todos os outros? É o roteiro, é a técnica empregada, são as atuações ou um conjunto de fatores? E dentro da composição de uma obra de arte, quão importante é o roteiro? Para que serve a estética, a técnica na composição de um filme? Acredito que parte da diversidade de respostas para essas perguntas, a diversidade de opiniões sobre 1917.


Longa de Sam Mendes (diretor de "Beleza americana") concorre ao Oscar 2020 em 10 categorias, incluindo Melhor Direção e Melhor Filme, prêmios para os quais é tido como o grande favorito da noite.



Narra a história de dois jovens, Cabo Schofield (George MacKay) e Cabo Blake (Dean-Charles Chapman) que em meio a primeira guerra mundial recebem a missão de atravessar pela Terra de Ninguém, onde pode ser que encontrem soldados inimigos, para impedir que na manhã seguinte milhares de homens ataquem alemães em suposta retirada e caiam em uma armadilha, dentre as diversas vidas que sua missão objetiva salva está o irmão de Blake.


E é isso, o filme nos traz a missão dos dois jovens ao longo daquela noite, o que como bem pontuado por diversos críticos nos remete a uma aventura de vídeo game.


Talvez com esse enredo você deve estar se perguntando, mas então, o que ele tem de especial? E a resposta é técnica. O longa foi filmado e editado para dar a impressão ao seu espectador de que a história se passa em dois longos plano sequência. São cortes quase imperceptíveis para que tenhamos a sensação de ter vivido com os jovens protagonistas as suas jornadas.


E de fato a técnica é incrível, a fotografia, a trilha sonora, o figurino e a direção de arte trabalham juntos para construir o suspense, a angústia, o horror e de alguma forma até o belo (a cena de bombas caindo em uma cidade em ruínas é uma das mais lindas que vi nessa temporada de premiações).



Com essa constatação, retorno às dúvidas iniciais e, me questiono se a técnica utilizada era relevante para o desenvolvimento da história? E sinto informar que não. 1917 parece mais uma grande exibição do diretor que para fazer algo diferente usou uma aspecto técnico inovador, mas que no conjunto geral de sua obra, é apenas isso, a técnica pela técnica.


E aqui posso lhe conferir exemplos de técnicas inovadoras usadas para construir a narrativa. "Roma" ao filmar em colorido e transformar em “tons de cinza”, fez porque as cores ajudaram a construir a ideia de estarmos dentro das memórias do diretor. Em “Um lugar silencioso”, a ausência de sons deriva da narrativa que consiste na fuga de monstros que caçam pelo som.


O caso de 1917, me lembrou muito o ano em que “O regresso” estava em alta pela técnica utilizada, mas que ao ver o filme, era nítido que a técnica escolhida servia apenas ao seu próprio espetáculo. Mas nem foi a filmagem em plano sequência sem função alguma na narrativa o que mais me incomodou. Mas sim as incoerências quanto ao propósito da narrativa e construção de personagens.


Ao nos inserir na história dos personagem, seguindo suas trajetórias, somos apresentados em segundo plano a vida dos soldados nas trincheiras da guerra, e ali, me senti vivenciando uma história do cotidiano, fato que me agradou imensamente. Porém, mais a frente a construção de todos os soldados alemães que passaram pela história foi no sentido oposto.


Enquanto a narrativa reforça a mensagem de que os jovens ingleses querem apenas sobreviver, justificando cada ato de guerra pela própria necessidade. Os alemães, que na verdade deveriam ter sido retratados de igual forma, foram demonizados para a construção dos personagens principais (nos remetendo ainda mais a sensação de estar acompanhando o passar de fases de um vídeo game).


E o que falar da única mulher que aparece no filme. A história pela abordagem escolhida, se constitui um uma narrativa masculina. Porém, "Ford vs Ferrari" nos demonstra que é possível em una história masculina inserir personagens femininas com características próprias.


Em 1917, a única mulher que aparece não é um ser por si própria. Na verdade, ela serve ao propósito de tratar os ferimentos do nosso herói (explorando o papel social de cuidadora), de demonstrar o seu caráter nobre ao compartilhar sua comida e, tenta trazer um apelo sentimental com a história do leite e com o pedido desesperado da jovem para que ele não vá embora, explorando a imagem da suposta fragilidade feminina para fortalecer a narrativa do herói masculino.


Tais constatações, não constituem um desmérito para a obra, nem diminui o quão incrível são os aspectos técnicos do filme, confesso que sai deslumbrada do cinema. O que questiono com os aspectos relacionados a narrativa, é que o filme poderia ser mais se não fosse apenas belo e desafiador na estética.


Assim, penso que 1917 é um filme inquietante, tecnicamente sensacional, muito belo, porém, infelizmente vazio e contraditório.


Beijos, Rafaela L.

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