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  • Foto do escritorPatrícia e Rafaela

Oscar 2021: Nomadland

Criar histórias fictícias e saber de que forma contá-las, não é nada fácil. Mas mais difícil ainda é misturar ficção com realidade e saber a melhor maneira para retratar o real, sem diminuir, desmerecer ou não fazer jus. Toda história de vida importa, afinal. Foi esse o desafio que a chinesa Chloé Zhao se propôs ao realizar o roteiro (adaptado do “Nomadland: Surviving America in the Twenty-First Century” de Jessica Bruder) e dirigir o melhor filme dessa temporada de premiações, Nomadland.


No filme somos apresentados a personagem Fern (Frances McDormand), uma mulher da terceira idade que após a crise de 2008 obrigar a fábrica onde trabalhava a fechar, se vê sem emprego fixo e perde sua casa. Após o fechamento da fábrica sua cidade se torna invisível. Isso é um tanto comum nos EUA, vermos indústrias que sustentam cidades pequenas fecharem e deixarem toda uma comunidade à mercê do zero. Uma viúva que se autodenomina como “sem casa”, mas com teto, vive em sua van. Durante o filme observamos a protagonista ali, vivendo, viajando de um local ao outro, arranjando trabalhos temporários, como empacotadora da Amazon, por exemplo. Mas principalmente, vemos a Fern conhecendo, aprendendo e emergindo com os nômades do oeste dos Estados Unidos. Viver de tal forma, como nômade tem feito adeptos no país, seja por vontade própria ou pelo peso das circunstâncias econômicas.



A diretora traz essa história com sutileza, beleza nos enquadramentos e escolha de cores para um filme solitário, triste e ao mesmo tempo, acolhedor. Te faz chorar, mas não porque é exagerado em ser dramático, não porque “força a barra” para que isso aconteça. É duro ver a realidade de tantos idosos, ou pessoas passando por processos de envelhecimento, de tal maneira. Vemos solidão, mas ao mesmo tempo o acolhimento da comunidade de nômades, o que nos leva ao sentimento ambíguo, do choro ao conforto. Esse sentimento é ampliado quando descobrimos que apenas a Frances McDormand e David Strathairn são atores no filme. A escolha em trabalhar com pessoas nômades e suas histórias verdadeiras traz um tom documental e mais realista que se aproxima do neorrealismo italiano, e que sem dúvidas, fizeram uma grande diferença na história.


Não é um filme sem esperança, pois essas pessoas se ajudam umas às outras e Zhao se foca na humanidade delas. Mas, é um filme sobre o ato de esperar o fim da vida. “O lar é só uma palavra”, de alguma forma, o filme traz poesia por ressaltar a intimidade, o verdadeiro. Percebemos, ao nos aproximarmos durante a narrativa, os perigos que os nômades vivem. De ameaças naturais à violência e a acidentes, o longa consegue transmitir a sensação de que o isolamento nem sempre é bem-vindo.


É curioso como muitos de nós ao assistirmos um filme buscamos uma explicação para tudo, uma motivação. Já não é de hoje que bons filmes não respondem todas as perguntas que são criados ao longo da obra, e está tudo bem. Justamente pois é uma construção de muitas realidades, mais uma vez, Nomadland traz poesia em não responder questionamentos como: Fern descobriu seu caminho? Ela está fugindo do passado ainda ou mirando no futuro?



Inteligente, sensível, podemos dizer que em alguns momentos engraçado e profundo. Nomadland é uma obra madura em todos os sentidos e não deixa furo, desde a atuação da impecável Francis McDormand na personagem que está carregada de sofrimento e melancolia e passa por um processo de amadurecimento em relação a sua nova realidade. A atriz, sem dúvidas, brilha no papel com atuação interna vívida e extremamente humana. Direção de Chloé, roteiro, fotografia que parecem quadros de orte, bom, o conjunto da obra como um todo. É impressionante como existe uma intimidade que poucas obras conseguem atingir. O espectador se sente próximo dos nômades, que ao contar suas histórias, muitas vezes desoladoras, ou ainda, esperançosas, nos coloca nessa realidade.


Mas o mais interessante aqui é: tá tudo bem viver como nômade, existem aqueles que fazem essa escolha, como os que são frutos de um sistema sem igualdade, mas mesmo de tal maneira, existe uma paz na solidão, uma paz na comunidade e viver de tal forma. A grande questão que fica, que para mim, é o ponto alto do filme, é a retratação da realidade dessas pessoas que lidam ou aprendem a lidar com processos de envelhecimento. Um filme espetacular, não é à toa que no Globo de Ouro 2021 e Critics Choice Awards, levou Melhor Filme. Também indicado ao Oscar 2021, nas categorias: Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Fotografia, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Atriz e Melhor Montagem. Assistam e anotem o palpite: vem a estatueta de Melhor Filme no Oscar aí.


Beijos, Patrícia L.


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